(Gazeta do Povo - 22/04/2010 - Deus e Ciência)
Por Cesar Kuzma - teólogo
Dentro do debate proposto podemos
traçar dois olhares distintos:
Num primeiro olhar observamos que há
um afastamento da ciência com a religião. Tivemos no passado um caminho penoso,
com perdas e conflitos de ambos os lados. A religião que estava acostumada em
ser mestre das respostas abre espaço para outra instância, a ciência. A fé num
Deus que não se vê se esvazia na crença de uma ciência que se vê e prova o que
vê. Sem dúvida, há um redirecionamento do sentido humano de buscar entender-se
dentro do mundo em que se encontra.
Quando trazemos a discussão entre
religião e ciência para um segundo olhar, mais recente, sem preconceitos, mas
com abertura ao diálogo, temos a chance de encontrar uma aproximação possível.
Se antes a religião havia se tornado absoluta nas suas respostas, outrora
ocorreu o mesmo com a ciência. Contudo, entendemos que ambas são meios e não
fins. Entendemos também que nos seus meios elas caminham pelos mesmos lugares,
mas possuem horizontes e interesses distintos. A resposta de uma não nega a
intenção da outra, desde que não se queira ter uma resposta absoluta e cega.
Não é necessário nos dias atuais uma separação e um confronto, ao contrário,
urge, cada vez mais, o interesse por uma aproximação, um entendimento e um
diálogo capaz de preencher lacunas existenciais na vida humana, que apesar de
todo avanço humano na busca do conhecimento e na busca pela verdade ainda
carecem de respostas: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por quê?... Por
quê?... Por quê?...
Se o ser humano antigo encontrava
respostas e fugas na religião, o ser humano moderno pode fazer o mesmo com a
ciência. Se ainda hoje muitos se frustram por não encontrarem todas as
respostas na ciência, o mesmo pode ocorrer na religião, quando esta carece de
razão e aliena ou infantiliza. A religião e a ciência são esferas que podem
caminhar juntas, até porque a religião precisará do conhecimento científico
para se expressar no mundo atual e a ciência pode muito bem utilizar a
inquietude humana, tão familiar nas religiões para persistir com suas buscas.
No mais, os interesses hoje se cruzam. Se num passado tivemos conflitos (e não
foram poucos), há que entendê-los a partir da visão de mundo particular de uma
época, porém no momento atual isso não se faz necessário.
Em 2009 o mundo celebrou os 150 anos
da obra de Charles Darwin sobre a evolução. Sabemos que no passado isso foi um
ponto conflitante, mas hoje já não é mais. Acreditar que houve uma evolução no
mundo não nega o que diz a religião, também não nega a existência de Deus. Ao
contrário, fortalece a crença num Deus que cria e deixa a sua criação livre
para seguir o seu curso. Entender isso mostra uma maturidade para a ciência,
mas também para a religião. Se hoje a ciência pode desvendar os segredos da
origem do universo, em nenhum momento isso questiona e nega o que pregam as
religiões no que diz respeito à tese de um Deus criador. Por muito tempo as
religiões se preocuparam com curas e atenção aos doentes, hoje sabemos que a
ciência nos presenteou com muitos avanços e explicações. O que devemos
perguntar não é sobre o confronto, mas a quem elas servem e para que servem. A religião
e a ciência terão a sua importância na sociedade desde que a partir delas se
promovam a vida e a dignidade. Fazer isso é entender a ciência, fazer isso é
entender o sentido da religião. Se formos capazes disso, seremos capazes de
entender o porquê da vida humana e o porquê de toda a criação.
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