quarta-feira, 29 de maio de 2013

Corpus Christi - Corpo do Senhor, Corpo da Igreja, Corpo dos Pobres




Que a Celebração de "Corpus Christi" resgate em nós o sentimento de "comunhão" que deve alimentar todo o "corpo" da Igreja. Que possamos acreditar, celebrar e viver a festa deste Corpo numa fé que nos "compromete"... Que nos compromete com a causa dos Pobres, com a causa do Reino, com a causa da Justiça, com a causa dos muitos "corpos" caídos e destroçados das nossas cidades. Que a Igreja, ao celebrar esta festa, não fique em aplausos, que não fique em um show... Que a Igreja, que é este "corpo", e que somos nós, tenha força de olhar para o lado e acolher a todos! Que o alimento seja fonte de força e de esperança! Que o "corpo" do mundo, sobretudo os pobres que nada tem e que estendem a nós as suas mãos (suadas, cansadas e partidas) transformem-se neste "corpo santo e vivo", fortalecido pela luz do Ressuscitado.
Amém!


Por Cesar Kuzma

Corpus Christi - Corpo do Senhor e Pão da Vida


Por Cesar Kuzma - teólogo


Amig@s!

Celebramos hoje a festa de Corpus Christi, a festa do Corpo do Senhor e a festa do Pão da vida. Penso, por bem, que isso nos traz uma grande questão, atenta, provocativa e, também, responsável.

Bem, o que isso nos diz?... O que é celebrar a festa do Corpo do Senhor?...

Ora, seria muito simples dizer que a Eucaristia é a presença real de Cristo. Isso é questão de fé, ponto. Mas não é este o cerne da questão. Afirmar na fé que a Eucaristia que celebramos é o Corpo do Senhor é ir muito mais longe, é lançar-se no mistério que invade a nossa história e o nosso tempo, quando professamos que Deus esvaziou-se de si mesmo para nos atingir (Fl 2,6-9), desceu e veio ao nosso encontro, assumiu a nossa vida e o nosso destino, viveu a nossa esperança e fez dela a sua, sentiu as nossas dores e as nossas lágrimas, foi fiel em sua missão de Reino e deu a sua vida a esta causa. É a causa da vida e não da morte. É a causa do caminho da justiça e do amor, e não a da condenação. É o caminho do Reino, que por fidelidade assume a todas as consequências, dando “corpo” a uma vontade que parte de Deus e nos atinge, levando-nos do tempo à plenitude (Ef 1,10). Celebrar a festa do Corpo do Senhor é entender a vida que percorreu A Pessoa que é este corpo e o que isso implica em nós. Mais. É seguir o caminho que este Cristo seguiu, sendo fiel a Deus na prática da justiça, do amor e da paz. Com certeza, é fazer memória. É referendar o Memorial do Senhor!

Mas, o que é celebrar a festa do Pão da Vida?...

Bom, o próprio nome já diz: “Pão da Vida”. São palavras do próprio Jesus: “Eu vim para que todos tenha vida” (Jo 10,10). Assume-se aqui a condição do Reino e a prática de vida do próprio Jesus que em seu viver levou vida aos que não tinham e esperança aos que estavam na desesperança. É a vida que nos preenche do verdadeiro sentido, que faz com que os cegos possam ver, que faz a outros andar e aos mudos falar. É a vida que anunciamos e que é a essência da “Boa Nova” inaugurada por Jesus. É a vida que se faz pão e que como pão vem saciar aqueles e aquelas que têm fome. Fome de pão e de justiça. É a vida que se faz pão e que como pão chama a “todos” - a todos - para a se assentarem ao redor da mesa, quando Ele está presente e ceia com eles, quando Ele reparte o pão e se faz conhecer pelo gesto de partilha. Ah, a partilha, prática tão esquecida e tão importante para entender o sentido daquilo que celebramos... É o pão da vida que se multiplica e vai ao encontro de todos, para que ninguém se perca, mas que se saciem e se envolvam com a fonte da verdadeira vida.

Mas em que estas duas questões nos tornam apreensivos e nos chamam a responsabilidade?...

Vejamos... É no compromisso com Aquele que se faz perceber pela fração deste pão. Comungar o pão é comungar o Cristo e comungar o Cristo é fazer comunhão com a proposta de vida e de Reino inaugurada por este Cristo, por este homem de Nazaré, que nos chama ao seguimento e ao enfrentamento da vida. Celebrar a festa do Corpo do Senhor e a festa do Pão da Vida é lançar-se a Ele da forma como Ele se lançou a nós. É entregar-se a causa do Reino e assumir a esperança deste, do mesmo modo como Ele se entregou a nossa causa e assumiu a nossa esperança. É viver como Ele viveu e sentir o que ele sentiu...

Contudo, é importante ater-se em algo! A corporeidade do Cristo tem que acontecer de fato, e ela não pode limitar-se apenas a um discurso de fé. Se assim for, será fraca e vazia de conteúdo. A corporeidade de Cristo deve acontecer da forma como ele fez e agiu. A Palavra de Deus se fez carne, ela se fez ver e tocar (1Jo 1,1-2), ela se fez força e presença, fonte de vida e de esperança. Esta corporeidade deve ser vivida no dia de hoje, no contato e no abraço, nos gestos de fé e de carinho, na solidariedade. Deve-se fazer sentir este corpo nos muitos corpos que passam pelo nosso caminho e que não nos damos conta de sua existência. Ignoramos. Triste realidade. A corporeidade deste Cristo deve se fazer sentir no corpo dos pobres, daqueles que são excluídos e banidos de nossa sociedade e de nossas Igrejas e movimentos. A corporeidade deste Cristo deve se fazer sentir nas inúmeras mulheres que sofrem em nossa sociedade, nos menores e nos mais vulneráveis. A corporeidade deste Cristo deve se fazer valer pelo autêntico testemunho da vida e do serviço. Ali este Corpo do Senhor será verdadeiramente o Pão da Vida. Ali este Corpo fará viver o que já perdeu força e se tornou pequeno, tornando-o cheio de vida, ressuscitado para o Novo que vem!

Diante dos espetáculos de luzes e sons que invadem a nossa prática de fé, ocupando o espaço numa belíssima e autêntica devoção popular, com “corpos” midiáticos que ocupam o lugar do verdadeiro Corpo, fazemos por bem relembrar aquele, cujo Corpo celebramos.  Este é o ponto. Há o outro lado também. Diante de frentes que não se abrem ao novo que avança pela Igreja e que insistem numa liturgia vazia e antiga, reforçamos aqui o apelo de Jesus que nos convida a seguir e a “ter parte com ele”, fazendo deste Pão um “arder” para a nova vida que se inaugura pela prática do Reino.

Assim, contemplando e atuando na natureza frágil e pecadora que Deus assumiu, fazendo desta o seu corpo, por um gesto de amor e paixão, assim, somente assim, podemos ousar dizer: “Eis o Corpo de Cristo”!

Esta a festa que celebramos - a festa do Corpo do Senhor e do Pão da Vida.