Por Cesar Kuzma - teólogo
Morte
e Ressurreição são temas caros e fundamentais para a fé cristã. Ambos os temas
são ricos e, às vezes, não são tão bem entendidos e aprofundados dentro da comunidade
eclesial e, também, pela maioria dos cristãos. Tal situação pode ocorrer por
diversas razões, como pretendemos apresentar.
A morte, seguramente, questiona-nos,
assusta-nos e nos incomoda. Em alguns casos ela causa medo e espanto,
sofrimento e dor. Estes sentimentos fazem com que a beleza que se encontra na
morte, ou mais seguramente, na interpretação teológica (e religiosa) que damos
a ela, não seja percebida. De certa forma, é normal que ocorra esta situação,
pois trata-se de uma questão humana. O ser humano não vive sozinho, ele cria
laços, forma vínculos, família, amigos, vive em relações de fraternidade e de
amor. Nestas condições, a morte é vista como rompimento, como separação, como
fim, ela traz dor e angústia. A incerteza humana não cede espaço para a certeza
da fé, pois o limite humano ganha espaço na pequenez da nossa condição. O fato
de termos consciência da morte nos provoca reações: nós a afastamos o máximo
possível; nós a ignoramos, fazendo com que passe ao longe, ou, quando chega,
que tenha um desfecho rápido.
Se passarmos para a ressurreição a
ideia fica ainda mais difícil, pois a morte é uma realidade concreta que está
sempre diante dos nossos olhos, já a ressurreição é uma realidade entendida (ou
aceita) apenas pela fé. Além disso, ela é algo distante, que não visualizamos,
é algo que não sabemos. Joseph Ratzinger (Bento XVI) diz em seu livro “Introdução ao Cristianismo” (p. 31-37)
que, todo aquele que crê é assombrado pelo mesmo fantasma daquele que não crê.
Para ele esse fantasma chama-se “talvez”. Nas certezas da fé, habitam as
incertezas humanas da falta de fé, que no interior humano duelam entre si. Pelo
fato da fé ser um sentimento humano, ela está presa na limitariedade humana e a
única forma de sair e de encontrar o seu destino (Deus) é abrindo-se à graça
divina, recebendo a Revelação, fonte de toda a verdade e fé.
No entanto, este discurso é distante
para a maioria das pessoas, uma vez que não se entende a ressurreição.
Acredita-se, em alguns casos, que a ressurreição é um retornar a esta vida,
assumindo este mesmo corpo e voltando às mesmas origens. Tanto de forma bíblica
quanto de forma científica isso é irreal. Cientificamente, é impossível, pois o
nosso corpo é formado de matéria e esta se transforma constantemente. O mesmo ocorre
pelo aspecto bíblico, que entende a morte, a partir do Novo Testamento, como
uma passagem definitiva para o encontro com Deus. Não se retorna a esta vida,
mas se leva esta vida para junto de Deus, onde tudo será transformado e
justificado na misericórdia e no amor universal. O que era tempo e perene é
acolhido na ternura de Deus, transformando-se em eterno. Para tanto, a ressurreição
sempre foi vista nas Cartas paulinas e pelos demais autores do Novo Testamento
como uma profunda transformação (cf. 1Cor 15), como um resgate do limite humano
pela grandiosidade de Deus. Na morte, a esperança se transforma em certeza e a
certeza abre espaço para a visão beatífica de Deus, que nos revela quem nós
somos e quem é Deus em nós.
Por fim, entendemos que morte e
ressurreição devem ser contempladas sempre à luz da fé. Diante disso, o
racional dá lugar ao mistério e no mistério contemplamos e fazemos reverência,
pois entendemos que a última resposta é dada por Aquele que pronunciou a
primeira palavra: Deus.
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