quinta-feira, 14 de junho de 2012

Eis que faço novas todas as coisas - texto final da defesa de doutorado em Teologia na PUC-Rio - 13 de abril de 2012


Por Cesar Kuzma - teólogo

“Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Esta frase do livro do Apocalipse constitui-se como uma grande promessa, que em nível de consequência teológica e em fechamento do nosso trabalho alimenta aquilo que esperamos e que se projeta na nossa missão de esperança, em vista do futuro de Deus. Tornar as coisas novas e tornar o mundo e a sociedade em um novo rosto, com uma nova vitalidade, onde se reine o amor, a justiça e a paz, faz parte da promessa da criação, perpassa pela história salvífica, culmina nas ações de Jesus Cristo e no seu Reino e dirige-se para o final da história. Neste final, da forma como chegamos, olhamos para o ressuscitado que diz: “Eis que faço novas todas as coisas”. Neste final da história teremos um final que se traduz em início de um novo momento, de um novo estado com Deus, em comunhão de amor, em plenitude. No fim – o início! Uma frase pertinente de Moltmann que circulou por nosso trabalho. Somente aquele que deu a primeira palavra pode também oferecer a última, e, portanto, tornar novo e pleno tudo aquilo que foi criado: a realização e a plenitude de toda a criação (cf. 1Cor 15,28; Ef 1,10). No entanto, na proposta de Reino apresentada por Jesus e na pedagogia de um Deus que se revela e participa da nossa história, convidando-nos a entrar em comunhão com ele, somos motivados e fortalecidos pelo Espírito a tornar sempre novo aquilo que está a nossa volta. A promessa de um mundo novo, onde se possa reinar o amor, a justiça e a paz não se destinam apenas para além deste tempo e história, mas devem acontecer também e já neste tempo e história: “na terra, como no céu” (Mt 6,10). A cruz de Cristo que nos revela a ressurreição encontra-se presa a terra e deixa-se iluminar pela luz do Ressuscitado. Assim, também nós, iluminados por esta mesma luz que nos antecipa o futuro de Deus, sentimos já nesta terra, neste tempo e nesta história aquilo que se realizará em nós junto a Deus. Em vistas desta esperança é que a TdE (alimentada pelas promessas) e a TdL (fortalecida pela esperança do povo) resolveram por transformar as estruturas a sua volta, despertando na Igreja e na sociedade a inquietude para este acontecer no amor, na justiça e na paz. Procuraram tornar novo o que não era mais novo; tentaram dar esperança, onde esta já não existia; levaram luz, onde só havia trevas e onde não se tinha mais sentido; falaram de esperança, em meio à morte, violência, pobreza e destruição. A urgência desta intenção no mundo de hoje, com todas as projeções que são feitas, socialmente e religiosamente, torna-se latente. Faz-se necessária uma ação da esperança no horizonte daquilo que foi prometido. Contudo, a grande riqueza que se constrói nestas teologias e que aqui trazemos como consequência teológica é que somos chamados a participar com Deus e não sem ele; que o futuro que nos é revelado é de Deus e com Deus e é para ele que estamos destinados; que tudo vem dele, por ele e retorna para ele (cf. Rm 11,36); que a esperança que nos faz agir percebe-se importante porque ancora-se na realidade, assume-a e a transforma; ela a conduz ao ponto alto e definitivo, onde só Deus pode dar a última palavra, uma palavra de salvação: “vinde benditos de meu Pai...” (Mt 25,34s). Olhar para este Deus que transparece em Jesus Cristo é se sentir tocado por um gesto de amor solidário. É ter força, quando só vemos fraqueza; é levantar, quando por vezes caímos; é lutar, mesmo quando perdemos. Enfim, é ter esperança. Ao fazer isso, tomamos esta atitude de ação e esta atitude de missão porque olhamos para aquele que venceu a morte e nos abriu o caminho da vida, da Verdadeira Vida. “A missão está a serviço do despertar de uma esperança viva, ativa e apaixonada pelo reino de Deus, o qual vem ao mundo para transformá-lo”. Este é o futuro que esperamos. Hoje, caminhamos em esperança, na missão da esperança, porque ouvimos aquele que diz: “Segue-me!” (Mt 9,9). “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).
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Na foto, da esquerda para a direita: Abimar, Sinivaldo, Maria Clara, Lina, Cesar e Agenor
          

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