quinta-feira, 14 de junho de 2012

Entendendo um pouco o Ecumenismo

Por Cesar Kuzma - teólogo

A palavra Ecumenismo tem origem na palavra grega Oikouménê, que significa a parte habitada de determinada região. Sua origem tem a ver também com casa (Oikos), embora esta casa não se identifique com uma casa forte, robusta e bem estruturada. Dá-se mais no sentido de tenda. Os povos antigos, a grande maioria nômades, viviam em tendas e o equilíbrio desta dependia do esforço conjunto de todos. Na tentativa de ilustrar melhor esta ajuda mútua que trazia consistência à comunidade cabe utilizar aqui o sentido da palavra resiliência, que é a capacidade que se tem de resistir. Para que uma tenda (oikos) permaneça (resista) faz-se necessário o comprometimento de todos os que estão sendo protegidos e abrigados por ela, uma vez que se trata de um habitat comum. Portanto, Ecumenismo significa também responsabilidade com a própria casa. Surge também o verbo zelar. Neste zelo e respeito, a sobrevivência de todos depende em garantir aquilo que lhes é comum.
Com esta definição o conceito de Ecumenismo logo passou a integrar o vocabulário das primeiras comunidades cristãs (séculos I-III), pois estas tentavam viver sempre de forma comum, partilhando o que possuíam e colocando os seus bens a disposição da comunidade, conforme a necessidade de cada um. Trazer para partilha o que é comum não significa anular-se para o outro, nem mesmo uma doação total ao outro, mas sim respeitar o outro naquilo que ele é diferente e dialogar com ele naquilo que ele é comum. Esta foi uma tentativa do Cristianismo primitivo que precisou trabalhar com isso para identificar as diversas comunidades que se formavam, cada qual com sua cultura e jeito, mas no fundo com uma mesma identidade.
Com o passar dos anos o Ecumenismo passou a incorporar todo o universo cristão, sendo citado em quinze ocasiões no Novo Testamento. Já nos primeiros séculos a diferença entre as comunidades suscita situações de conflito e a expressão ecumênica surge como um retorno às origens da fé. Observa-se que, uma coisa é o jeito de ser e de viver da comunidade, outra coisa é a verdade que as sustenta; para os cristãos este era o alicerce fundamental, devendo ser sempre o ponto comum. Mais tarde surgem então os Concílios Ecumênicos, aonde são promulgados os primeiros dogmas e ensinamentos cristãos. Em contrapasso disso iniciam-se algumas dissidências, separações que surgem no interior do Cristianismo, por conflitos a respeito da doutrina, estruturas políticas e hierárquicas.
Por conseguinte, temos o Cristianismo aliado às forças do Império Romano, o que fez que sua doutrina fosse espalhada por todo o oeste da Ásia, norte da África e Europa. Onde estava o Império Romano ali estava o Cristianismo, ou seja, a Igreja cristã. No entanto, situações começavam a incomodar o andamento desta situação e separações entre Igrejas acontecem em vários momentos. Os motivos para que isso ocorra são variados, podendo em partes, serem resumidos em duas instâncias: o teológico e o político.
Se olharmos para toda esta história ela trará momentos de encontro e de desencontro, de avanços e de retrocessos. A partir do momento que uma tradição se divide, mesmo ela sustentando a essência da sua fé (crença, sua verdade), o caminho que ela percorre a partir daí diz respeito somente a ela. Ela constrói uma outra história, configurada pela sua cultura e jeito próprio de ser. Por mais que se tente um retorno o caminho percorrido possui marcas muito profundas que não podem (e não devem), em hipótese alguma, ser anuladas.
Isto é um desafio para o Ecumenismo atual que se vê diante de um mundo, onde a existência de sua própria verdade obriga a uma aproximação. Este contato com o outro não é uma tarefa fácil, mas é um objetivo que deve ser alcançado, pelo menos, desde já, almejado. Até mesmo porque no caso do Ecumenismo este outro convive na mesma casa (oikos) e a identidade que os sustenta é a mesma e é comum.
Nos dias atuais o Ecumenismo possui traços significativos: organizações como Conselho Mundial de Igrejas (CMI), criado em 1948; as propostas apresentadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965); o diálogo constante entre as Igrejas cristãs em prol de um bem comum, deixando de lado muitas das diferenças teológicas; as inúmeras campanhas de solidariedade; Campanhas da Fraternidade; as ações do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, no caso específico do Brasil (CONIC); os diversos movimentos ecumênicos; Declarações Conjuntas sobre tratados de fé (caso específico entre católicos e luteranos) etc; em muito tem contribuído para propiciar um diálogo aberto e frutuoso. No entanto, ainda existem situações de crise, vindas em parte por pensamentos fundamentalistas que se fecham a qualquer tipo de ação conjunta. Falar de Ecumenismo hoje não é uma tarefa fácil, mas um desafio que deve ser assumido por qualquer denominação que se sinta parte de um contexto histórico de mudança que interpela cada um de nós.

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