Toda
a teologia é vivida e refletida a partir da ressurreição de Jesus. Todo o NT
foi escrito a partir da experiência viva trazida pela ressurreição de Jesus.
Logo, ela não é o fim, mas o ponto de início de qualquer reflexão cristológica.
Pois se Cristo não ressuscitou vã é a nossa fé (cf. 1Cor 15,14).
Por Cesar Kuzma - teólogo
A
maneira como eles (os primeiros cristãos – discípulos) compreenderam esta
ressurreição foi da fé para a história e
não da história para a fé. Isto se evidencia pelo fenômeno de Pentecostes (cf.
At 2,1s). A ressurreição é tida pela fé cristã como histórica porque aconteceu
na história, marca a história e irrompe nela, pois a constitui.
A
partir da experiência da ressurreição
os discípulos começaram a re-ler a
vida de Jesus, bem como os acontecimentos vividos junto com eles e viram em
tudo isso um evento salvífico. Agora, pela força do Espírito Santo eles podem
ver o que antes não viam. O mistério é revelado, o véu do templo se rasga...
O
ressuscitado aparece (aparições) para
eles como alguém que está vivo, mas diferente...
A
comunidade primitiva prega agora o Cristo como alguém que está vivo no meio
dela. É uma experiência singular que
penetra em toda a tradição antiga. Cristo realiza em si toda a esperança
messiânica do povo judeu. Ele que, na concepção de muitos contemporâneos seus,
era apenas um homem, torna-se, agora, O HOMEM. Aquele que era o messias, o
messias político (da entrada em Jerusalém, da expulsão do templo etc), que
morreu como um falso messias etc, passa a ser agora o Messias por excelência,
chamado por Tomé no Cenáculo como “Meu Senhor e Meu Deus” (uma frase construída
num momento pós-pascal).
O
ressuscitado traz uma força tamanha
que os discípulos, de covardes e desesperançados, passam a ser corajosos e
cheios de esperança. O temor dá lugar à fé. A fé vive na esperança e esta se
propaga no amor Daquele que Vive.
Com
a ressurreição de Cristo dá-se o início de um novo paradigma religioso. Um
evento que é capaz de mudar totalmente a história. Consuma-se nele o fim, por
isso Cristo ressuscitado é tido como o Último (o Éschaton), o Ômega. É aquele que nos antecipa o futuro e consolida
em nós o Espírito prometido, força capaz de relembrar os seus ensinamentos e
sua vida (paracleto) e, também, de
dar continuidade na construção do Reino de Deus. Na experiência do ressuscitado
não somos nós que vamos, mas é Cristo e seu futuro que vem. Somos portadores de
uma fé de advento.
A
experiência da ressurreição é possível de ser encontrada nos textos do NT. Em
Paulo e nos hinos das primeiras comunidades, nos textos mais antigos, é uma
experiência totalmente transcendental e
escatológica. Para Paulo, o centro de sua pregação está na Paixão, morte e
ressurreição de Jesus. Para ele, toda a criação geme em dores de parto à espera
do dia da ressurreição final. A ressurreição de Jesus, muito mais do que
histórica (ele não se preocupa com isso), é totalmente
escatológica: abre o horizonte humano para a nova criação. Nos evangelhos,
já se tinha o gérmen de uma
comunidade cristã (pronunciada nos AT com a Igreja primitiva) e, com isso,
começam a surgir alguns questionamentos: “Quem foi e quem é, de fato, Jesus
Cristo, o homem de Nazaré?” (Eis aí uma pergunta teológica). Todos os
evangelistas, envolvidos num ambiente histórico distinto, confrontavam-se com
uma situação peculiar e buscaram, portanto, responder a esta pergunta, partindo
sempre da experiência do ressuscitado para a vida pública de Jesus. Com o
passar dos anos, com o aumento da distância do evento da ressurreição, notamos
um esfriamento desta experiência pessoal (alimentada também pela morte das testemunhas oculares), fazendo surgir em
meio às dúvidas, como decorrência, um amadurecimento
teológico. Ou seja, as coisas, os fatos precisavam de melhores explicações,
porque os novos crentes passam a
ouvir sobre Jesus sem nunca terem estado com ele. A maior discussão é sobre a veracidade da ressurreição de Jesus.
Surge então a questão do “túmulo vazio”, “das testemunhas femininas”, do
“testemunho dos apóstolos” (referências da comunidade), “da busca por respostas
nas profecias judaicas no AT”. Jesus surge como “Novo Moisés”, “O Novo Homem”.
De profeta, pregador e messias judeu, passa para Filho de Deus e daqui para
Deus...
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