segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cristologia - Ponto de partida: a Ressurreição de Jesus


Toda a teologia é vivida e refletida a partir da ressurreição de Jesus. Todo o NT foi escrito a partir da experiência viva trazida pela ressurreição de Jesus. Logo, ela não é o fim, mas o ponto de início de qualquer reflexão cristológica. Pois se Cristo não ressuscitou vã é a nossa fé (cf. 1Cor 15,14).
Por Cesar Kuzma - teólogo
 
A maneira como eles (os primeiros cristãos – discípulos) compreenderam esta ressurreição foi da fé para a história e não da história para a fé. Isto se evidencia pelo fenômeno de Pentecostes (cf. At 2,1s). A ressurreição é tida pela fé cristã como histórica porque aconteceu na história, marca a história e irrompe nela, pois a constitui.

A partir da experiência da ressurreição os discípulos começaram a re-ler a vida de Jesus, bem como os acontecimentos vividos junto com eles e viram em tudo isso um evento salvífico. Agora, pela força do Espírito Santo eles podem ver o que antes não viam. O mistério é revelado, o véu do templo se rasga...

O ressuscitado aparece (aparições) para eles como alguém que está vivo, mas diferente...

A comunidade primitiva prega agora o Cristo como alguém que está vivo no meio dela. É uma experiência singular que penetra em toda a tradição antiga. Cristo realiza em si toda a esperança messiânica do povo judeu. Ele que, na concepção de muitos contemporâneos seus, era apenas um homem, torna-se, agora, O HOMEM. Aquele que era o messias, o messias político (da entrada em Jerusalém, da expulsão do templo etc), que morreu como um falso messias etc, passa a ser agora o Messias por excelência, chamado por Tomé no Cenáculo como “Meu Senhor e Meu Deus” (uma frase construída num momento pós-pascal).

O ressuscitado traz uma força tamanha que os discípulos, de covardes e desesperançados, passam a ser corajosos e cheios de esperança. O temor dá lugar à fé. A fé vive na esperança e esta se propaga no amor Daquele que Vive.

Com a ressurreição de Cristo dá-se o início de um novo paradigma religioso. Um evento que é capaz de mudar totalmente a história. Consuma-se nele o fim, por isso Cristo ressuscitado é tido como o Último (o Éschaton), o Ômega. É aquele que nos antecipa o futuro e consolida em nós o Espírito prometido, força capaz de relembrar os seus ensinamentos e sua vida (paracleto) e, também, de dar continuidade na construção do Reino de Deus. Na experiência do ressuscitado não somos nós que vamos, mas é Cristo e seu futuro que vem. Somos portadores de uma fé de advento.

A experiência da ressurreição é possível de ser encontrada nos textos do NT. Em Paulo e nos hinos das primeiras comunidades, nos textos mais antigos, é uma experiência totalmente transcendental e escatológica. Para Paulo, o centro de sua pregação está na Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Para ele, toda a criação geme em dores de parto à espera do dia da ressurreição final. A ressurreição de Jesus, muito mais do que histórica (ele não se preocupa com isso), é totalmente escatológica: abre o horizonte humano para a nova criação. Nos evangelhos, já se tinha o gérmen de uma comunidade cristã (pronunciada nos AT com a Igreja primitiva) e, com isso, começam a surgir alguns questionamentos: “Quem foi e quem é, de fato, Jesus Cristo, o homem de Nazaré?” (Eis aí uma pergunta teológica). Todos os evangelistas, envolvidos num ambiente histórico distinto, confrontavam-se com uma situação peculiar e buscaram, portanto, responder a esta pergunta, partindo sempre da experiência do ressuscitado para a vida pública de Jesus. Com o passar dos anos, com o aumento da distância do evento da ressurreição, notamos um esfriamento desta experiência pessoal (alimentada também pela morte das testemunhas oculares), fazendo surgir em meio às dúvidas, como decorrência, um amadurecimento teológico. Ou seja, as coisas, os fatos precisavam de melhores explicações, porque os novos crentes passam a ouvir sobre Jesus sem nunca terem estado com ele. A maior discussão é sobre a veracidade da ressurreição de Jesus. Surge então a questão do “túmulo vazio”, “das testemunhas femininas”, do “testemunho dos apóstolos” (referências da comunidade), “da busca por respostas nas profecias judaicas no AT”. Jesus surge como “Novo Moisés”, “O Novo Homem”. De profeta, pregador e messias judeu, passa para Filho de Deus e daqui para Deus...


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