sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Espírito e a esperança



Por Cesar Kuzma - teólogo 


Aquilo que esperamos, esperamos no Espírito.

Trazemos aqui, quatro reflexões sobre a relação existente entre o Espírito Santo e a esperança, em continuação aos dois artigos anteriores, que já publicamos:

1. Na esperança, o Espírito aponta o futuro: viver no Espírito, viver na esperança que o Espírito desperta é viver com os olhos para o futuro. É Deus com o seu futuro que vem em nossa direção e nós, pela graça, temos a oportunidade de acolher. Poder vislumbrar este futuro, este advento do Reino, faz-nos viver em esperança já neste tempo, numa esperança que se transforma em certeza quando nos deixamos envolver pela força do Espírito. É quando tudo o que é perene vislumbra e sente a presença do eterno, deixa-se contagiar por esta dimensão que nos invade e nos seduz na esperança do Reino. É viver hoje na esperança do amanhã, com força para superar obstáculos, com entusiasmo e alegria, com vitalidade e proteção, garantidos pelo Espírito que proporciona esta condição e reestrutura o nosso ser para tudo aquilo que há de vir.

2. Na esperança, o Espírito nos impulsiona a viver o presente: Este olhar para o futuro, para o advento de Deus, este sentir no “já” o “ainda não” futuro, acarreta-nos um compromisso com aquele que vem. Deus não nos tira do mundo, ao contrário, ele nos leva a agir no mundo, a transformá-lo na perspectiva do Reino que vem. Temos parte com ele e temos parte na sua missão. Agimos no hoje com as sementes do que foi prometido, encorajados e fortalecidos pela ação do Espírito. Nós conhecemos o mundo e, por conhecê-lo e por saber o amor de Deus para com ele, nós não o abandonamos, mas sentimos as suas dores, choramos as suas lágrimas, somos solidários com suas fraquezas, reproduzimos no mundo o gesto de amor que Deus teve para conosco. Amamos o mundo como obra criada por Deus, logo, se amamos a Deus, amamos também o mundo; se o mundo sente e sofre, também sentimos e sofremos com ele; se somos alimentados pela esperança que acolhemos na fé, na graça de Deus, levamos aos outros esta esperança, na certeza da presença do Espírito que nos renova e na vinda do Reino, que fará novas todas as coisas (cf. Ap. 21,5).

3. No Espírito, a esperança se constrói: Entendemos a esperança como virtude e força. Como virtude, a esperança é dom de Deus, é dom de Deus que nos vem da fé, é graça, é contato e encontro, é chama... Como força também é dom, é dom de ação, é coragem e compromisso, é audácia na busca de encontrar aquilo que ainda não se vê, mas se sente e confia. Por isso, a esperança é construída no Espírito, ele é o dom de Deus, ele aponta o futuro e nos faz viver o presente. Ele que nos envolve no caminho de Cristo e nos ensina o caminho do Reino. Ele nunca nos abandona, ele nos guarda e nos protege, encoraja-nos e nos anima para servir, para viver, para sentir a presença de Deus em cada gesto e em cada olhar. É no Espírito que a esperança se constrói.

4. No espírito, a esperança encontra o seu abrigo, o seu penhor: É o Espírito quem orienta os nossos passos e nos conduz no caminho de Jesus, que é verdade e vida. Ele socorre a nossa fraqueza e intercede por nós com gemidos inefáveis (cf. Rm 826). Nele aguardamos na esperança que vem da fé (cf. Gl 5,5). Se não estamos sozinhos e se ele está sempre conosco, a nossa esperança encontra abrigo, pois é garantida pela ação do Espírito que vive e age em meio a nós. Se, portanto, o Espírito tem a função do paráclito de nos trazer à missão do Cristo, é a Cristo e sua missão que devemos seguir. Se o Espírito forma com o Pai e o Filho a Unidade de Comunhão, esta unidade e comunhão deve transparecer na Igreja, que somos nós, como reflexo da Trindade. Se o Espírito faz novas todas às coisas, cabe a nós, enquanto Igreja, tornar novo o que está a nossa volta, dentro da proposta de futuro, que nos é apresentada pelo Cristo Ressuscitado, onde teremos vida e vida plena. Se o Reino prometido vem com Deus, nós podemos, pela força do Espírito – em esperança – vislumbrar e viver a sua intenção já no presente, pois temos no Espírito a garantia escatológica. Ele é que torna pleno o futuro que foi prometido, ele é que restaura e nos orienta no caminho de Jesus, ele é quem age na missão e é ele que garante a ação de Deus em meio a nós, fazendo que a vida encontre o seu verdadeiro sentido e o seu destino. Ele é que faz com que Deus esteja em nós e com que nós estejamos em Deus. Ele é o penhor da nossa salvação.

Afirmamos que há uma ação de Deus em nosso favor e esta ação sempre se renova na força do Espírito. Ele é o guardião e o animador da nossa esperança, como bem assegurou o Papa João Paulo II, na Encíclica Dominum et vivificantem, de 1986. Nós fomos criados no seu amor e Deus vem ao nosso encontro e nos mostra a sua face; caminha conosco e nos mostra o seu rosto. Despe-se de si mesmo, despoja-se de sua divindade e assume a nossa humanidade em Cristo (cf. Fl 2,6-9), por amor. Cristo – guiado pelo Espírito – caminhou pelos caminhos humanos e fez suas as nossas fraquezas, libertou-nos delas para o amor e para a liberdade, trilhou um caminho de paz e de justiça e nos convidou a segui-lo. Veio a nós, enviado pelo Pai, mas sempre, conduzido pela ação do Espírito Santo; transparecendo assim uma ação única de Deus, compreendida por nós, na fé, de maneira trinitária, sempre. Cristo, antes de entregar-se na sua paixão, diz a seus discípulos: “Não os deixarei órfãos” (Jo 14,18).

Esta frase ecoa na nossa vocação e missão porque sabemos que não estamos sós e sabemos que é ele, o Espírito Santo, o agente de toda a missão e de toda a ação divina, é quem plenifica tudo o que existe, transformando-nos em novas criaturas (cf. 2Cor 5,17). Ele traz a nós a vida nova, que é o que esperamos. Seguros desta esperança, agimos na construção do Reino, na promoção da justiça, do amor e da paz. Aí se encontra o Espírito e a esperança.

Assim, Iluminados pela ação do Espírito Santo e alimentados pela esperança, caminhamos em direção às promessas de Deus, pois fomos marcados pelo Espírito Santo, o penhor da nossa herança.

Na esperança, clamamos, “Vem, Espírito!”...
Vem, Espírito da Esperança!

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