Por Cesar Kuzma - teólogo
No
momento em que trazemos para esta reflexão teológica a temática do “Espírito da
Esperança”, temos claro para nós que a esperança – entendida aqui como virtude
teologal e força carismática de ação – tem como principal função animar e
impelir as comunidades de fé e as pessoas em si ao encontro com o futuro
prometido e para o qual estamos (e estão) destinados em Cristo, para o
cumprimento das promessas de Deus. A esperança – virtude e força – antecipa-nos
o futuro do Reino e nos anima a viver no presente, e de forma motivada e lúcida
nos faz transformar a nossa realidade em vista do que foi prometido. A certeza
e a garantia desta ação, sentidas na fé, são confirmadas pela presença do
Espírito Santo, que como Espírito de Cristo atua no mundo e em nós,
conduzindo-nos no caminho de Cristo para sermos continuadores de sua ação, e
garantindo a nós que a promessa futura venha encontrar-se com a realidade
presente. Dentro disso, é correto apontar o Espírito Santo como Espírito da
esperança, pois, apoiamo-nos aqui naquilo que já foi afirmado em Efésios, que
trata o Espírito como “o penhor da nossa herança” (Ef 1,14), e também, no que
já se anunciou na Carta aos Romanos, que diz: “e a esperança não decepciona,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que
nos foi dado” (Rm 5,5).
Este
amor de Deus que vem até nós pelo Espírito Santo preenche-nos de vida e nos faz
sentir, já neste tempo, as sementes da plenitude futura, como promessas que se
enlaçam e vêm ao nosso encontro. É Deus que se torna próximo e presente pelo
Espírito que confirma, relembra e renova a sua ação. É Deus vem com o seu amor
e nos envolve por inteiro, vem com o seu Espírito que nos vivifica e nos anima,
impulsiona-nos na direção do seu Reino e na continuidade da sua missão,
inaugurada por Cristo e confirmada pelo Espírito Santo. É Deus com seu Espírito
que nos faz olhar a frente e perceber a grandiosidade do futuro que vem, cativa-nos
na esperança e motiva-nos na ação, trazendo para o nosso tempo na história a
novidade vivida e apresentada por Jesus de Nazaré. Aí se encontra a nossa
esperança, garantida pelo Espírito, “penhor” da nossa salvação, o penhor da
esperança.
O
Espírito é a garantia da salvação que nos é oferecida gratuitamente por Deus.
Nele somos marcados pelo selo da promessa (cf. Ef 1,13). O que solidifica a
nossa certeza, que nos impulsiona a fé, é a marca que trazemos do Espírito
Santo. É impossível haver esperança sem que haja a ação do Espírito. Foi ele
quem falou outrora pelos profetas, que guiou a Cristo e que hoje conduz a
Igreja (cf. LG n. 4), que somos nós. Era ele quem pairava sobre as águas e era
ele a força pela qual Deus ordenava a sua criação. Ele é o defensor do povo, é
o paráclito, é o consolador, é quem resgata e confirma o caminho de Cristo e
nos conduz na sua direção. Enviado pelo Pai e pelo Filho é ele é que nos leva
pelo caminho verdadeiro e nos direciona a plenitude do Reino. Para a comunidade
paulina a certeza do Espírito era tão importante quanto à certeza da
ressurreição de Cristo. Estas duas coisas estavam totalmente interligadas. O
penhor do Espírito é a marca do cristão, que pela promessa assegura-se na sua
esperança, que no Espírito sempre se renova.
“Selados pelo Espírito da promessa” (Ef 1,13). Frisamos aqui a palavra
promessa porque ela só pode ser compreendida como evento de revelação de Deus à
luz do Espírito Santo.
O
Papa João Paulo II, na sua Encíclica Dominum
et vivificantem, de 1986, diz que o Espírito Santo não cansa de ser o guardião
e o animador da esperança (cf. n. 66). Podemos falar então de uma garantia
escatológica do Espírito. O Espírito é o garantidor, é quem sela aquilo que foi
prometido. É ele também que nos incita à missão e garante a nossa permanência
na mesma. O Reino de Deus continua atuando na história, dando continuidade à
ação do próprio Cristo. A comunidade de fé, a Igreja, que se coloca nesta
condição age e se deixa conduzir pela força deste Espírito. Trazemos aqui uma
afirmação de José Comblin: “Devemos partir da missão do Espírito, de onde
deriva a missão da Igreja e toda a ação cristã, o Espírito que é o único e
verdadeiro caminho” (Tempo da Ação, p. 28).
Justificando a sua afirmação, Comblin continua: “A missão do Espírito Santo não
suprime a do Cristo. Não a reduz em nada. Pelo contrário, exalta-a, visto que
faz surgir seu verdadeiro sentido” (Tempo
da Ação, p. 28).
Esta
é a garantia, o penhor. Este é o Espírito da esperança.
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