quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Espírito da Esperança



Por Cesar Kuzma - teólogo

No momento em que trazemos para esta reflexão teológica a temática do “Espírito da Esperança”, temos claro para nós que a esperança – entendida aqui como virtude teologal e força carismática de ação – tem como principal função animar e impelir as comunidades de fé e as pessoas em si ao encontro com o futuro prometido e para o qual estamos (e estão) destinados em Cristo, para o cumprimento das promessas de Deus. A esperança – virtude e força – antecipa-nos o futuro do Reino e nos anima a viver no presente, e de forma motivada e lúcida nos faz transformar a nossa realidade em vista do que foi prometido. A certeza e a garantia desta ação, sentidas na fé, são confirmadas pela presença do Espírito Santo, que como Espírito de Cristo atua no mundo e em nós, conduzindo-nos no caminho de Cristo para sermos continuadores de sua ação, e garantindo a nós que a promessa futura venha encontrar-se com a realidade presente. Dentro disso, é correto apontar o Espírito Santo como Espírito da esperança, pois, apoiamo-nos aqui naquilo que já foi afirmado em Efésios, que trata o Espírito como “o penhor da nossa herança” (Ef 1,14), e também, no que já se anunciou na Carta aos Romanos, que diz: “e a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Este amor de Deus que vem até nós pelo Espírito Santo preenche-nos de vida e nos faz sentir, já neste tempo, as sementes da plenitude futura, como promessas que se enlaçam e vêm ao nosso encontro. É Deus que se torna próximo e presente pelo Espírito que confirma, relembra e renova a sua ação. É Deus vem com o seu amor e nos envolve por inteiro, vem com o seu Espírito que nos vivifica e nos anima, impulsiona-nos na direção do seu Reino e na continuidade da sua missão, inaugurada por Cristo e confirmada pelo Espírito Santo. É Deus com seu Espírito que nos faz olhar a frente e perceber a grandiosidade do futuro que vem, cativa-nos na esperança e motiva-nos na ação, trazendo para o nosso tempo na história a novidade vivida e apresentada por Jesus de Nazaré. Aí se encontra a nossa esperança, garantida pelo Espírito, “penhor” da nossa salvação, o penhor da esperança.

O Espírito é a garantia da salvação que nos é oferecida gratuitamente por Deus. Nele somos marcados pelo selo da promessa (cf. Ef 1,13). O que solidifica a nossa certeza, que nos impulsiona a fé, é a marca que trazemos do Espírito Santo. É impossível haver esperança sem que haja a ação do Espírito. Foi ele quem falou outrora pelos profetas, que guiou a Cristo e que hoje conduz a Igreja (cf. LG n. 4), que somos nós. Era ele quem pairava sobre as águas e era ele a força pela qual Deus ordenava a sua criação. Ele é o defensor do povo, é o paráclito, é o consolador, é quem resgata e confirma o caminho de Cristo e nos conduz na sua direção. Enviado pelo Pai e pelo Filho é ele é que nos leva pelo caminho verdadeiro e nos direciona a plenitude do Reino. Para a comunidade paulina a certeza do Espírito era tão importante quanto à certeza da ressurreição de Cristo. Estas duas coisas estavam totalmente interligadas. O penhor do Espírito é a marca do cristão, que pela promessa assegura-se na sua esperança, que no Espírito sempre se renova.  “Selados pelo Espírito da promessa” (Ef 1,13). Frisamos aqui a palavra promessa porque ela só pode ser compreendida como evento de revelação de Deus à luz do Espírito Santo.

O Papa João Paulo II, na sua Encíclica Dominum et vivificantem, de 1986, diz que o Espírito Santo não cansa de ser o guardião e o animador da esperança (cf. n. 66). Podemos falar então de uma garantia escatológica do Espírito. O Espírito é o garantidor, é quem sela aquilo que foi prometido. É ele também que nos incita à missão e garante a nossa permanência na mesma. O Reino de Deus continua atuando na história, dando continuidade à ação do próprio Cristo. A comunidade de fé, a Igreja, que se coloca nesta condição age e se deixa conduzir pela força deste Espírito. Trazemos aqui uma afirmação de José Comblin: “Devemos partir da missão do Espírito, de onde deriva a missão da Igreja e toda a ação cristã, o Espírito que é o único e verdadeiro caminho” (Tempo da Ação, p. 28). Justificando a sua afirmação, Comblin continua: “A missão do Espírito Santo não suprime a do Cristo. Não a reduz em nada. Pelo contrário, exalta-a, visto que faz surgir seu verdadeiro sentido” (Tempo da Ação, p. 28).

Esta é a garantia, o penhor. Este é o Espírito da esperança.

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